A opinião dos portugueses quanto ao assunto não é linear, mas os números, esses, não enganam.
A cremação passou a ser a alternativa mais utilizada ao funeral comum, ou seja, à inumação tradicional de colocar o corpo num caixão e depositar debaixo da terra.
Se em 2010 tínhamos cerca de 9 mil cremações em Portugal, no ano de 2014 quase que se realizaram 14 mil cremações. Números que aumentam de ano para ano.
Estes não são uns números quaisquer! São números que só podemos alcançar devido à constante insistência com os crematórios, câmaras municipais e entidades responsáveis para os facultarem.
Até agora, nenhum órgão de comunicação ou entidade se interessou pelo tema, de modo que o Até Sempre viu-se obrigado a “partir pedra” para chegar até aqui.
O quadro que se segue representa a evolução do número de cremações nos crematórios portugueses:
Nota: O Até Sempre contatou o Grupo Servilusa detentor de cinco crematórios em Portugal (Porto: Lapa, Rio de Mouro, Póvoa de Santa Iria, Figueira da Foz e Elvas) que não se mostrou disponível para revelar os dados de cremações anuais de cada um dos crematórios. Ainda assim, a Servilusa reiterou que se “verificou um aumento no número de cremações ao longo dos últimos anos, em Lisboa e em termos nacionais.”
A partir deste quadro, concluímos que a “moda” das cremações ainda não chegou em grande força às ilhas. Em Porto Santo, o crematório abriu em 2009 tendo realizado apenas 5 cremações, sendo o número mais elevado alcançado em 2013 com 31 cremações. No presente ano, o crematório realizou apenas duas cremações.
Já no Funchal os números não são tão “desoladores”. O crematório do Funchal é recente mas de setembro de 2014 até ao fim do ano teve 33 cremações. Em 2015 já conta com 121.
Nos Açores existe apenas crematório na Ilha de São Miguel, em Ponta Delgada. Num universo de cerca de 14 000 habitantes houve 114 cremações em 2012, 102 em 2013 e 128 no ano de 2014.
Na zona norte do país, o destaque vai para o crematório do Porto que chega quase às 2 mil cremações por ano. Ainda assim, a Câmara Municipal portuense reconhece que até ao momento “as cremações de 2014 para 2015, desceram em aproximadamente 35 cremações/mês, contrariando o acréscimo anual moderado (que vinha a acontecer).”
Matosinhos ocupa o segundo lugar dos crematórios do norte com maior número de cremações - uma média de 650 cremações por ano, desde 2013.
Também em São João da Madeira se nota um crescimento do número de cremações: 81 em 2010; 257 em 2013; 308 em 2014 e 2015 conta já com 349.
O crematório de Viseu, à semelhança de outros crematórios, tem tido um crescimento dos números, contudo estimava-se que os valores fossem superiores. Segundo Rui Ramos, responsável pelo crematório em causa, estes números não são mais elevados porque “as pessoas ainda pensam que a cremação é um funeral caro.” Um estigma que acredita que pode ser combatido com mais informação sobre a prática.
Em Lisboa, as cremações já são mais usuais, pelo menos é isso que demonstram os números. Os crematórios do Alto de São João e dos Olivais realizavam a maioria das cremações. Em 2005 esta foi a opção para 3305 pessoas, sendo o pico em 2010 com 4761 cremações. Com o crescimento evidente, muitas das cremações desviaram-se para novos crematórios como é o caso de Almada e de Camarate.
Oeiras e Sesimbra abrangem uma vasta população e a evolução é vista por Nina Martins, engenheiro responsável, como
“resultado da qualidade das instalações e do serviço”.
O Alentejo é servido apenas por um crematório, em Ferreira do Alentejo.
Mais recentemente, em março de 2015, Setúbal inaugurou um crematório onde 400 cadáveres já foram transformados em cinzas. Na mesma altura abriu o crematório de Paranhos que conta com 466 cremações, até à data.
Não há dúvidas sobre a evolução constante do número de cremações. Resta perceber se é apenas uma “moda”, ou se a moda veio para ficar.