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Urnas abertas no aeroporto de Lisboa para inspecionar corpos
A Até Sempre sabe que três corpos foram proibidos de embarcar pela segurança do aeroporto de Lisboa. Há urnas abertas em pleno aeroporto e todos concordam que local não tem condições para este procedimento. PSP confirma.

13/04/2016
Autor: Irene Palma

 

A polémica está instalada no Aeroporto de Lisboa com o embarque de corpos para o estrangeiro. O Até Sempre sabe que, desde sábado até esta quarta-feira, três corpos ficaram retidos, e impedidos de embarcar, devido a dúvidas levantadas pela segurança do aeroporto. O processo não é novo, mas tem aumentado o número de urnas que têm sido abertas em pleno aeroporto, após chegarem ao local seladas pela Polícia de Segurança Polícia (PSP). As dúvidas sobre as condições de segurança para proceder a tal facto em pleno aeroporto são levantadas quer por parte dos funcionários do aeroporto, quer por parte dos agentes de autoridade, quer dos agentes funerários. Todos concordam e dizem ao Até Sempre que não há condições para realizar tal procedimento no aeroporto da capital, mas a verdade é que este ocorre.

 

Os corpos são retidos quando estão a passar no controlo de cargas do aeroporto e o sistema de segurança deteta algo suspeito. “O aeroporto defende que existe um processo de triagem por uma questão de segurança que tem de ser cumprido. Sempre que existem dúvidas aquando da passagem da urna no controlo de segurança é chamado um elemento da polícia para que aquela urna seja aberta”, afirma ao Até Sempre fonte da PSP.

 

Este elemento das forças de segurança prossegue: “É chamado um agente da PSP, o corpo fica retido e o agente solicita ao Ministério Público que seja quebrado o selo. A polícia procede a essa quebra e depois de se perceber as razões que levantaram dúvidas a urna volta a ser selada e procede-se ao embarque.”

 

 

A questão que se coloca é em que condições sanitárias e de segurança é que esta abertura de urna é feita. “Muitas vezes o processo ocorre nas instalações do próprio aeroporto. Agora, se me pergunta se o local tem condições para que se proceda a este facto, até por uma questão de saúde pública e de respeito para com a situação, prefiro não me pronunciar”, refere uma das fontes policiais ouvidas pelo Até Sempre.

 

Agentes funerários não entendem o que se passa

 

A Agência Funerária Roma recorre frequentemente aos serviços do aeroporto de Lisboa para proceder ao envio de corpos para o estrangeiro, uma vez que é a empresa de referência da comunidade muçulmana em Portugal. O Até Sempre contatou o responsável desta agência sediada na Avenida de Roma, em Lisboa, que confirma conhecer esta polémica: “O agente de autoridade certificou-se que não havia nada que impossibilitasse o embarque daquele corpo e selou a urna. Como é que quando chegamos à zona de cargas do aeroporto de Lisboa este pode ficar retido porque é observada, por exemplo uma mancha escura na imagem? Então mas o agente de autoridade não selou a urna validando o embarque? Algo não está a funcionar bem.”


Fernando Miranda recorda os procedimentos burocráticos necessários para proceder ao envio de um corpo para o estrangeiro: “Todos os corpos têm de ir numa urna de zinco, urna essa que é fechada na presença de um agente da autoridade. Solicitamos à seção de correspondência do Governo Civil uma autoridade para proceder à selagem da urna que precisamos que embarque e esse procedimento ocorre por exemplo na Igreja, na Capela ou na Mesquita. Após o agente da PSP assinar o livre-trânsito mortuário é colocada uma fita à volta da urna, que é lacrada com um selo da República Portuguesa e a urna está oficialmente selada e em condições de seguir para o estrangeiro.”

 

 

 

O responsável da agência Roma recorda uma situação ocorrida com um colega de profissão: “Sei que numa das vezes abriram a urna no aeroporto e era um ramo de flores que seguia junto ao corpo a razão da mancha.”
Quando ocorre o impedimento de embarque o corpo fica retido e é chamado um agente de autoridade. Este por sua vez pede a já referida autorização ao Ministério Público para quebra do selo. Só depois de ser dada essa autorização é que a urna pode ser aberta. Verificadas, e solucionadas, as causas que levantaram suspeitas na zona de embarque, a urna pode então voltar a ser fechada, com zinco, e posteriormente selada pela PSP.

 

Para não falar das questões familiares que esta situação levanta relacionada com o luto e as cerimónias fúnebres no país onde o corpo vai ser sepultado, Fernando Miranda aponta questões de saúde pública e processuais: “Para mim, e para os meus colegas agentes funerários, é estranho como se processa tudo isto na zona de cargas do aeroporto. É muito esquisito este procedimento e levanta muitas dúvidas. Porque é que o aeroporto não tem uma sala apropriada para este tipo de procedimentos? Como pode não ter? Não me parece que um armazém ou até a céu aberto seja o ideal para proceder a estas situações.”


O responsável máximo da Agência Funerária Roma admite que ainda não teve “nenhum problema destes com um corpo que tenha enviado para fora”. “Sei que desde os atentados na Bélgica as regras de segurança apertaram na zona de cargas. Compreendo isso, o que não compreendo é esta indefinição e uns corpos seguirem e outros ficarem retidos e muitas vezes o que aparece no raio-X são marchas relacionadas com objetos de tradição cultural do falecido ou até sequências de autópsias.”

Outro agente funerário, que preferiu não ser identificado, confirma que “há dois meses implicaram com um frasco de perfume que ia com o corpo, que segundo a tradição do falecido é normal levar junto ao corpo, um perfume e um pente por exemplo”.

 

Aeroporto de Lisboa marca reunião de emergência
 

Oficialmente o responsáveis do Aeroporto de Lisboa preferiram não se pronunciar. A Direção Nacional da PSP ficou de enviar para o Até Sempre uma posição oficial sobre este caso, mas até ao momento ainda não o fez.

 

O Até Sempre sabe que o caso ocorrida esta quarta-feira motivou uma reunião de emergência no Aeroporto de Lisboa, durante a tarde, sobre estes procedimentos e depois de várias horas retido o corpo acabou por seguir viagem para o destino sem que a urna fosse aberta.

 

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