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“A funerária é o meu filho”
Victor Andrade, da Funerária de Famalicão, surpreende com a inovação que emprega nos funerais. “Fazer o máximo por todos” é o lema do agente funerário.

16/11/2015
Autor: Joana Martins Gomes

 

O agente funerário tem 44 anos, mas desde novo que viu o avô trabalhar nesta área: “Tinha um avô que era agente funerário, andava sempre com ele e até gostava um bocadinho.”
 
Em 1975, fugiu da guerra. Deixou Angola e esse momento marca-o ainda hoje. Victor Andrade confessa ao Até Sempre que os foguetes o assustam e tudo por conta dessa fuga. “Do Lobito para Luanda fugimos debaixo de tiros, de medo. Isso deixou marcas. Houve uma altura que quando ouvia foguetes e escondia-me debaixo das mesas”, recorda. 
 
Entre 1990 e 1991 esteve nos Comandos na Amadora. Uma aventura que só durou um ano. 
 
 
“Acordo de madrugada”
 
Em 2002 tirou o primeiro curso da ANEL e isso “abriu-lhe os olhos” sobre o setor funerário. Aprendeu o básico: fechar a boca, lidar com o luto... Percebeu que podia ajudar os outros e apaziguar a dor. Decidiu que seria esse o seu caminho.
 
Dedicou-se de corpo e alma a esta missão e não mais parou, sempre em busca de prestar um serviço cada vez melhor a cada família que procura os serviços da Agência Funerária de Famalicão. A evolução começou em 2005. Na época a agência fazia uma média de 50 funerais por ano. Só neste ano de 2015, já realizou 130 funerais.
 
“Às vezes acordo de madrugada para deixar tudo pronto” admite Victor ao Até Sempre quando o questionamos sobre o dia-a-dia. 
 
A Funerária de Famalicão diferencia-se pela dedicação de Victor Andrade aos pormenores. 
 
O agente funerário destaca ainda a vontade que tem de aprender e cultivar-se sempre mais e mais. Tem cursos de “tudo e mais alguma coisa”, desde cursos sobre o luto, a tanatoestética ou até mesmo de auto-hipnose da dor. Victor conta-nos que este último tem como objetivo libertar as outras pessoas e ao mesmo tempo proteger-se contra a dor alheia.
 
“Tirei o 12º ano, mas gostava de ter estudado mais. Falta-me tempo, portanto aposto nestas pequenas (grandes) formações”.
 
 
“O inovador”
 
Victor Andrade dá vida à funerária situada em Arcos, uma freguesia pacata do concelho de Anadia, mas ninguém fica indiferente às celebrações fúnebres.
 
Há mais de dez anos que Victor coloca passadeiras vermelhas de 6 a 10 metros e cinzeiros na entrada da Igreja e/ou do cemitério. Para precaver do sol e da chuva, o agente funerário coloca uma cobertura e até relva sintética. A isto acrescenta também cadeiras para que as pessoas mais velhas ou com necessidade se possam sentar e assistir à celebração no cemitério. “Tudo isto são agrados. O meu objetivo é dar mais dignidade e um ambiente mais agradável a um momento tão triste”, reforça.
 
Nas aulas de psicologia do luto ensinaram-no a amenizar a dor e o luto alheio, e confidencia: "É por isso que coloco uma foto A3 um pouco afastada do caixão. Desta forma, aqueles que não conseguem ver o corpo podem relembrar a imagem do falecido."
 
O agente funerário é considerado por muitos como “inovador” e recusa acomodar-se: “A minha última inovação foi colocar um sistema de som para que naqueles funerais de 500 ou 1000 pessoas, todas possam ouvir a última oração da mesma maneira.”
 
"Acontece muitas vezes os meus clientes, os padres e os amigos darem-me ideias e eu estou sempre disposto a ouvi-las", confidencia.
 
Faz o trabalho maioritariamente sozinho, ainda que o pai lhe dê uma mãozinha sempre que é preciso. 
 
Victor Andrade brinca e diz: "Sou solteiro e bom rapaz e a funerária é como um filho para mim."  Mesmo que mais ninguém na família continue com este negócio sente aquilo que faz tem sentido e é importante para muitas pessoas. 
 
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