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O agente funerário que é presidente da Casa do Benfica
Quer honrar a dedicação que levou o pai a implementar a Agência Funerária de Loures. Paulo Almeida fala orgulhosamente do trabalho e do desafio que o levou a assinar protocolo com o clube da Luz

16/10/2015
Autor: Irene Palma

 

Cresceu no meio dos mortos e é por isso que os amigos o tratam carinhosamente por Paulo Caveirinha. Mas, leva bem a sério a conversa quando falamos do trabalho que tem como responsável da Agência Funerária de Loures. “O que me move nas horas de maior aflição é poder ajudar as pessoas. Muitos dos que nos contratam o serviço não sabem do que se trata. Sabem é que nós resolvemos e fazemos um bom serviço. É disso que nos orgulhamos”, afirma peremptoriamente Paulo Almeida. “Os meus amigos próximos encaram lindamente a minha profissão e quando precisam sabem quem os pode ajudar”, prossegue, garantindo: “Sou feliz a fazer o que gosto.”

 

Aos 40 anos, Paulo Almeida sente-se realizado na agência e também com o novo desafio que abraçou em Março deste ano quando se tornou presidente da Casa do Benfica de Loures. Juntamente com um grupo de amigos viabilizou o acordo que permitiu concretizar um desejo antigo dos benfiquistas daquela cidade. Mas, é fácil lidar com estas questões clubísticas quando se tem uma agência funerária? “Não há problema algum com isso. O meu pai é do Sporting, por isso não há rivalidades”, afirma com fair-play.

 

Na faculdade conciliava os estudos com a agência

 

Cresceu com a Funerária de Loures a fazer parte do dia-a-dia da família Almeida. O carro funerário não lhe causava qualquer admiração e a morte nunca o assustou. “Sempre foi um tema fácil para mim. Nunca me causou confusão. Achei que devia dar continuidade porque quando o meu pai veio para cá fazia um ou dois funerais por mês. Criou a casa para ser o que é hoje. A minha decisão foi dar continuidade ao grande trabalho e entrega dele, apesar de ser um negócio do qual gosto”, conta Paulo Almeida ao Até Sempre.

 

O gerente da Agência Funerária de Loures admite que na época em que começou a trabalhar teve tudo mais facilitado do que o pai. “Desde os 16 anos que trato de funerais… Quando estive na faculdade conciliava os estudos com a agência”, recorda Paulo, ele que assistiu ao surgimento daquilo que já é em determinadas zonas uma moda: a cremação. “Antes nem se falava nisso. Agora até os velhotes já dizem que querem ser cremados. O que me dizem é que são eles que cuidam das campas, dos cemitérios e que quando morrerem ninguém vai cuidar da campa deles, por isso o melhor é serem cremados porque assim não dão trabalho a ninguém.”, descreve sobre um ritual fúnebre que começou a ganhar expressão na zona há 10 anos, sensivelmente.

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como diz o povo. “Agora oferece-se mais coisas. Água, chá, café… Os agentes funerários andam fardados, tudo se modernizou. Este setor evoluiu mais com a entrada da Servilusa em Portugal. A Servilusa trouxe mais ideias novas, trouxe a tanatopraxia e a tanatoestética… Obrigou-nos a olhar para o serviço de outra forma” explica Paulo Almeida que trabalha fardado com fato igual aos dos restantes funcionários da Funerária.

 

 

Tradição preservada nos tempos modernos

 

Destaca a evolução do setor funerário, mas considera positivo manter algumas tradições. O primeiro carro da agência, que data de 1948, ainda hoje existe. Em Loures, e noutras localidades próximas, os funerais ainda têm acompanhamento a pé. Na Funerária da qual Paulo Almeida é gerente esta tradição mantêm-se no percurso entre a capela e o cemitério.

 

Paulo, não é do tempo em que funerária abria as portas para receber corpos que vinham de Lisboa, levados por quem, na época, agilizava toda a burocracia inerente ao que significava realizar em Loures o funeral de alguém que falecia, por exemplo, em Lisboa.

 

Hoje as duas cidades ficam como que lado a lado. Na década de 60 não era nada assim. Tratar de todos os procedimentos “era uma aventura”, mas as dificuldades não impediram que Alcino Almeida, o pai de Paulo, decidisse arriscar em 1974 quando tomou conta da agência em sociedade.

 

Quisemos ainda saber como lida este agente funerário com a morte. “Os meus avôs já faleceram os dois e foi uma mistura de sentimentos… Em termos de impacto o que mais me custou foi a cremação de um menino pois tinha uma relação próxima com os pais. Um amigo ligou-me de repente e disse-me que tinha de tratar de tudo porque o filho tinha morrido. Foi um choque. Consigo gerir os sentimentos porque fui criado neste meio, mas neste caso custou muito”, conclui.

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