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De Ferreira Torres a Manoel Oliveira, uma Casa com história
Mais de 52 anos de dedicação a uma profissão que abraçou em plena adolescência. Decorria o ano de 1962 quando, ainda sem ter completado 15 anos, António Pereira começou no setor funerário.

17/09/2015
Autor: Irene Palma

 

Foi, naturalmente, subindo na carreira. De empregado passou a sócio. Depois em 1991 montou aquela que ainda é atualmente a Funerária das Condominhas – Casa António Pereira.
 
“Comecei a interessar-me cada vez mais por isto e não imagina a complicação que era antigamente. Uma pessoa do Porto morria em Matosinhos e demorava quase 24 horas até que conseguíssemos colocar o corpo em velório. E tinha de ser transportado dentro numa urna metálica. Havia muita burocracia por uma questão de saúde pública”, afirma de pronto António Pereira.
 
Nesta entrevista ao Até Sempre, António Pereira recorda a evolução a que assistiu em termos de procedimentos legais ao logo deste quase meio século de carreira: “A lei pela qual nos regíamos era de 1875 e só foi revogada pelo Doutor Sá Carneiro a 4 de dezembro de 1980. Só nesse Decreto-Lei é que ele abriu a trasladação de corpos entre distritos sem ser em urnas metálicas. Era tudo muito diferente. Tínhamos de ter aprovação da polícia, das Câmaras, do Governo Civil… Temos de recordar que só em 1979 é que foi assinado o acordo internacional para o transporte de corpos entre países. Hoje é tudo mais fácil, quer em termos de burocracias e até os carros que temos ajudam a que seja mais fácil. ”
 
 
Pira de lenha antes de a cremação ser moda
 
António Pereira tem-se adaptado às várias realidades que tem encontrado ao longo destes mais de 52 anos e foi ganhando o respeito da comunidade indiana, fazendo vários funerais de indianos no Porto.
 
“Fiz a cremação de alguns indianos em pira de lenha, seguindo a tradição hindu, antes de 1995 quando passou a existir o forno crematório no Porto. A comunidade indiana aqui no Porto já foi maior, mas quando há um funeral é habitual que nos procurem porque mesmo já não podendo fazer a pira ainda se seguem outros rituais. Comecei a lidar com a comunidade logo após o 25 de abril de 1974”, conta o responsável pela Funerária das Condominhas.
 
Se aquando da Revolução dos cravos eram apenas os indianos que queriam ser cremados, hoje a realidade é bem distinta. É caso para dizer que a cremação está na moda. “Não há cemitérios como antigamente. Quando as cremações começaram eram só os intelectuais que queriam. Agora todos querem. Economicamente acham mais viável porque não têm de gastar dinheiro no mármore mais tarde, por exemplo. Vão no dia ao funeral e não precisam e ir mais ao cemitério”, defende António Pereira.
 
 
“Fascina-me pôr os corpos bonitos”
 
Já fez funerais dos mais badalados da cidade Invicta, como aconteceu com o escritor Eugénio de Andrade e com o cineasta Manoel de Oliveira. “Para mim são iguais a quaisquer outros. Têm mais mediatismo e telefonam mais vezes para a agência a pedir informações, mas o resto é igual. Por exemplo em 1979 no do Ferreira Torres houve polícia em todas as rotundas do Porto a Amarante. Até acabou por nos facilitar o trabalho”, recorda António Pereira.
 
Independentemente da condição económica de quem procura os serviços tem como máxima prestar o melhor serviço possível: “Há famílias para as quais faço funerais há décadas. Funerais de muitas gerações. O que mais me fascina é pôr os corpos bonitos. Mal houve formação em Espanha fui logo tirar, para saber como tratar os corpos.”
Preocupado em inovar considera “muito importante as novas tecnologias e os novos serviços de homenagem como o que pode ser prestado através do Até Sempre”. 
 
 
E como é que António Pereira quer que seja o seu funeral? 
 
“Tenho jazigo por isso que me metam numa urna e façam como quiserem. Não tenho medo da morte. Só não quero sofrer”, responde de pronto a esta pergunta quase sempre tabu.
 
António Pereira é o rosto da Casa a que também dá nome, mas o negócio já é seguido pelos dois filhos, Nuno e Pedro. O Nuno começou primeiro a seguir as pisadas do pai e “desde pequeno que se inclinou para isto”, confessa orgulhoso o pai António: “O Pedro licenciou-se, depois ficou sem trabalho e não fazia sentido estar desempregado quando aqui havia trabalho. Está a começar.”
 
O testemunho já está a ser passado aos filhos mas António Pereira não se imagina longe da funerária. “Não tenho feitio para estar quieto”, conclui.

 

 
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