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<<A luta do Luto
23/07/2015
Eis o que sabemos: o luto é morte; o luto é preto; o luto é tristeza; o luto é dor. Para a maioria de nós, luto é isto. Para os especialistas, luto é muito mais que isto.
“O luto é um processo de reação a uma perda pessoal profunda, que decorre no tempo de forma mais ou menos prolongada”, afirma a conselheira do luto Cristina Felizardo.
Culturalmente, falamos de luto quando nos referimos a uma pessoa que perdeu alguém. Na nossa sociedade, luto é sinónimo de morte. Aliás, é como se estivessem umbilicalmente ligados: está de luto quem sofre uma perda por morte.
Mas, para quem é especialista em luto, esta não é uma verdade absoluta!
Cinco causas, duas respostas
Existem cinco causas primordiais no que respeita ao luto. A causa mais reconhecida culturalmente é a separação de pessoas, quer pela morte, divórcio ou até emigração. Contudo, a perda de fantasia de afeto, como é o caso de um feto abortado ou o nascimento de um filho deficiente, também é uma das causas.
A estas juntam-se a desvalorização social, por desemprego ou desqualificação profissional, o dano ao amor-próprio e ainda, as perdas socialmente desvalorizadas, isto é objetos ou animais de estimação, e comportamentos minoritários.
Entende-se que o luto pode ser normal/saudável ou psicopatológico/doentio, mas sempre superável. No primeiro caso a resposta é encontrada através do trabalho desenvolvido pelo Conselheiro do Luto. Se for um luto doentio necessita de intervenção terapêutica.
Conheça as diferenças:
Normal/Saudável |
Psicopatológico/Doentio |
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Fonte: Espaço do Luto |
“Tudo depende do vínculo”
O primeiro passo é reconhecer que está a passar por um processo de luto e que necessita de apoio especializado. Feito esse reconhecimento, segue-se o pedido de ajuda. É aí que entram os Conselheiros do Luto. É aí que entram pessoas como Cristina Felizardo.
“Não somos especialistas da vida de ninguém”, afirma Cristina. Mas estes “não especialistas” ajudam muitas pessoas a superar o que as deixa enlutadas.
Cristina explica-nos que a primeira história que as pessoas contam é a “história embelezada” e apenas com o decorrer das sessões de apoio ao luto é que a “história-fantasia começa a perder força e a realidade acaba por se impor, com toda a sua dureza mas veracidade”.
A APELO intervém junto de pessoas, famílias e comunidades em luto aplicando o modelo vivencial, desenvolvido e aprimorado ao longo dos anos pelo fundador desta instituição, o Prof. Doutor José Eduardo Rebelo. Todo o apoio é prestado por Conselheiros do Luto, profissionais especializados, empáticos e eficazes, que ao aplicarem este modelo em contexto de sessão, acompanham a pessoa no seu luto de modo a que esta reconheça a verdadeira dimensão da sua perda. Ao fazê-lo a pessoa consciencializa a intensidade do seu pesar (a mágoa) e enquadra a pressão social que rodeia essa perda (o nojo). Ambas a consciencialização e enquadramento decorrem do processo de luto, onde várias vivências são experienciadas, tais como o choque e negação ativa da perda, numa fase inicial; a oscilação entre a descrença da perda (prevalência do passado com o ente querido) e o reconhecimento doloroso da perda (imposição do presente sem o ente querido); que inevitavelmente, com o decorrer do tempo, levam à superação da perda, ou superação do luto.
Este “decorrer no tempo” não tem fórmulas e depende sempre da intensidade do vínculo estabelecido com o ente querido perdido”. O resultado esperado é só um: que a pessoa em luto volte a sentir a harmonia interior e reaprenda a bem-viver.
A arte de bem viver
Costuma-se dizer que tudo tem solução na vida, exceto a morte. Neste caso não é diferente!
Quando “cai a ficha” e se dá o reconhecimento do que perturba a pessoa, inicia-se o passo seguinte: a superação.
E é aqui que tudo faz diferença. Há duas formas de superar uma perda pessoal profunda: aceitando-a ou conformando-se.
Aceitar é sinónimo de desapego, como por exemplo em caso de divórcio. É possível que a pessoa volte a bem viver.
Já a conformação “fica para a vida”. Cristina Felizardo explica-nos que nestas situações, a ausência dá lugar a uma cicatriz frágil. A conformação acontece, na maioria das vezes, em perdas relacionadas com filhos.
Numa sociedade que não facilita que se chore ou se fale de quem partiu. Numa sociedade m que vestir ou não preto gera julgamentos, aumenta a necessidade de procurar um suporte para encontrar o caminho a seguir.