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Panteão Nacional: mais do que um “cemitério” chique
Quase 300 anos contam a história da igreja de Santa Engrácia. O século XXI faz renascer o monumento com a transladação dos restos mortais de Eusébio

29/06/2015
Autor: Joana Martins Gomes

 

Por esta altura voltamos a ouvir falar em transladação e Panteão Nacional. Quem despoletou tudo isto foi Eusébio. No dia da morte do futebolista português já muitos vinham manifestar o seu desejo de o ver na igreja que homenageia a vida.

 

Passados 544 dias, a grande homenagem vai acontecer. O Parlamento aprovou por unanimidade conceder honras de Panteão Nacional à glória benfiquista “homenageando o símbolo nacional, o homem solidário, o futebolista e o desportista excecional, evocando o seu estatuto de verdadeiro marco na divulgação e na globalização da imagem e da importância de Portugal no Mundo", considerou o Parlamento em comunicado, a 22 de fevereiro.

 

Mas, afinal o que é o Panteão Nacional?

 

Corria o ano de 2000 quando o jornalista António Valdemar escreveu, no Diário dos Açores, «na democracia em que vivemos e que desejamos cada vez mais participada pelos cidadãos, compete-lhes influenciar, mas cabe à Assembleia da República fazer a seleção nacional».

O jornalista escreveu estas palavras referindo-se à transladação de Amália para a Igreja de Santa Engrácia, ou Panteão Nacional, como agora todos lhe chamam.

Começou por ser uma igreja em 1568 mas um temporal deixou Santa Engrácia severamente danificada. Lançou-se a primeira pedra da reconstrução em 1682, tendo sido concluída em 1966, no Governo de António de Oliveira Salazar. Foram precisos 284 anos para que a preciosidade do barroco português fosse concluída. Devido ao longo período de finalização surgiu a expressão «obras de Santa Engrácia», usada para designar algo que tarda a ser terminado. Pelo meio foi um depósito de armamento e fábrica de sapatos do Exército.

No centro de uma espécie de praça de mármore de cores solenes consegue imaginar-se o que as paredes contam. Simão Pires, diz a lenda, cavalgava todos os dias até ao convento de Santa Clara para se encontrar com Violante, uma jovem tornada noviça por vontade do seu pai, um fidalgo. Violante e Simão haviam combinado fugir, mas os homens do rei prenderam o cristão-novo por roubo das hóstias da igreja de Santa Engrácia. O cavaleiro foi condenado à morte e, por paixão, nunca revelou o que fazia no local. Foi queimado junto à nova igreja que ficava perto do convento mas, quando o fogo começou a envolver o seu corpo, Simão gritou «é tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem!»

A igreja de Santa Engrácia foi destinada a Panteão Nacional em 1916 mas nem sempre reconhecida como tal. Durante anos mediu forças com o Mosteiro dos Jerónimos, que muitos consideram o verdadeiro panteão.

 

Os escolhidos…

 

Ao redor do átrio central encontram-se cenotáfios, tipo de monumento fúnebre que homenageia uma personalidade em que o corpo está ausente. Camões, Vasco da Gama, Nuno Álvares Pereira, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque e o Infante D. Henrique são as figuras celebradas.

Em corpo e memória são onze os túmulos que o Panteão recebe. Uma sepultura de mármore salta à vista numa das salas, onde as flores ainda cheiram a fresco e as cores alegram o ambiente. Amália Rodrigues jaz ali, ao lado de Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e João de Deus.

Os presidentes da República Teófilo Braga, Óscar Carmona, Manuel de Arriaga e Sidónio Pais fazem as honras noutra sala. Apenas Sidónio, assassinado em 1918, recebe algumas flores.

No esquecimento estavam Humberto Delgado e Aquilino Ribeiro que partilham uma sala distante de todas as outras. Mas esta sala ganhou vida com a transladação de Sophia de Mello Breyner, no ano passado. A escritora foi a última personalidade a ter honras de Panteão Nacional, dez anos após o seu falecimento.

 

No próximo dia 3 de julho, Eusébio da Silva Ferreira junta-se a estas figuras célebres que levaram o nome de Portugal além fronteiras.

 

O futuro do Panteão Nacional

 

À luz da lei que regula as honras do Panteão (28/2000), este destina-se «a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade».

A decisão de quem deve figurar no Panteão Nacional é política e, ainda que o paradigma do mérito literário não deixe de pairar sobre o Panteão, a presença de Amália e Eusébio reflete um alargamento dos critérios que definem as figuras a serem consagradas.

 

Em 2013, o Panteão teve 72 mil visitantes, cerca de 70% dos quais estrangeiros. Com a transladação de Eusébio da Silva Ferreira este valor corre o risco de aumentar significativamente, pois o Pantera Negra poderá ser o fio condutor da relação intimista que o monumento pode criar com o público.

 

A igreja de Santa Engrácia pode começar agora a cair na graça dos cidadãos que, ainda desconhecendo o que simboliza querem que faça parte do seu «currículo cultural». 

 

 

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