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Sê extraordinário!
"Com a idade fui me apercebendo da minha diferença, ou melhor, a diferença sempre foi imposta pelos outros!"

28/08/2018
Autor: Ana Catarina Silva

 

Há 45 anos nascia uma bebe morena, alegre...sem mão e sem parte da perna.

 

Na idade certa, aprendi a andar graças à ajuda de uma prótese. Na mão, nunca quis. Posso dizer que sempre considerei que tive uma infância o mais normal possível. Saltava ao elástico, aprendi a andar de bicicleta, a nadar, aprendi a descascar batatas, fazia malha com os pauzinhos do mikado, imitava as minhas irmãs em quase tudo, (hoje gabo-lhes a paciência), se não conseguia fazer da mesma forma, arranjava maneira do resultado ser parecido.

 

Também cresci a conviver com nomes como, “perneta”, “maneta”, “perna de pau” e outros mimos. Por razoes óbvias, ninguém queria jogar ao eixo comigo, quando se tratava de futebol eu era a guarda redes. Pois levar um pontapé de uma prótese é muito doloroso, assim, também descobri que tinha uma boa arma para me proteger. Com a idade fui me apercebendo da minha diferença, ou melhor, a diferença sempre foi imposta pelos outros! Lembro-me dos longos passeios à beira mar com irmãs e primos na praia de Monte Gordo, das outras crianças fazerem uma pequena roda à minha volta sob o olhar pasmado dos pais.

 

No ano passado resolvi honrar aquela que me tem feito andar ao longo destes anos, presenteando-a com uma linda e grande tatuagem em vinil, um ponto a favor, não doeu nadinha. Sim, neste momento tenho orgulho da minha prótese. Por ironia do destino, no verão passado voltei à praia de Monte Gordo e aos ditos passeios à beira mar.

 

Algo que pensava estar enterrado, veio à memoria, e tive a noção que ali, em tempos foi onde me senti mais diferente. Digeri as lembranças, lambi as feridas e transformei os passeios que outrora eram um misto de alegria e tortura, num verdadeiro desfile à beira mar com a minha linda prótese. E quando olhava por cima do ombro, já não via as caras de espanto nem de pena, mas sim sorrisos tímidos e acenos de cabeça em sinal de aprovação.

 

Hoje sinto-me completa. Tenho a esperança que a minha diferença e a maneira como a encaro, ajude outras pessoas a fazerem a DIFERENÇA!

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