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Mãe não te preocupes, somos todos pó de estrelas!” foi o que André disse à sua mãe, uma semana antes de dar entrada no hospital, do qual já não viria a sair. Tem sido com esta máxima que Isabel tem conseguido voltar a sorrir.

Isabel tinha a família perfeita. Casou com o homem dos seus sonhos, foi morar com ele para o castelo e lá tiveram três filhos: André, Marta e David. Com uma família de cinco, podiam contar sempre com uma coisa: casa cheia de vida. Os finais de dia e os fins de semana, eram vividos num absoluto rebuliço. Entre gritos, gargalhadas e tachos ao lume, os dias iam passando e a família vivia uma vida feliz, cheia de planos e sonhos.

Foi assim durante 12 anos. Por esta altura, surge uma notícia que viria a mudar a vida desta família para sempre. Nada mais seria igual. André é diagnosticado com cancro. A família une-se como nunca. Entre gritos e gargalhadas e tabuleiros de refeitório, os dias passaram e André venceu esta batalha. A vida retornou à casa e esta cheia de vida ficou. 

André continuou com os seus planos e sonhos. E tinha acabado de realizar mais um: entrou em ciências biomédicas e era um orgulhoso estudante universitário no quadro de honra. 

Mas esta alegria é temporária. Desaparece com a notícia da doença do pai. A família une-se mais uma vez, mas as sequelas da última batalha ainda estavam frescas. O pai não resiste e a batalha é perdida. Mas não houve tempo para chorar. A vida estava determinada em continuar a guerra. André volta ao combate. Um novo cancro. Quais as probabilidades de isto acontecer, à mesma pessoa, na mesma vida? Por certo serão ínfimas. Mas ainda assim, aconteceu e ali estava ele para relatar em primeira mão.

 

“se calhar já não é suposto combater mais. Se calhar só resta passar a mensagem”

Aos 22 anos André, que era na verdade um idoso sábio escondido atrás daqueles caracóis louros, passa a mensagem à sua mãe: “Somos todos pó de estrelas”.

Na altura Isabel, ainda a lutar com as poucas forças que tinha, ainda a sobreviver à morte do marido, não prestou atenção aquelas palavras. 

Só quando André partiu ela percebeu: somos realmente todos pó de estrelas.

Andamos, gritamos, gargalhamos e convivemos, mas no final não passámos de estrelas emprestadas que viveram neste plano. Não faz mal se alguma delas parte antes de nós. Pois um dia, também nós retornaremos aquilo que realmente somos: pó de estrelas.