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Quantas perdas cabem numa vida?
"O luto não é só por morte. A morte dos nossos entes queridos é uma das causas do luto. E em Portugal, de facto, quando falamos de luto, culturalmente associamos o luto à morte."

31/01/2018
Autor: Cristina Felizardo - Conselheira do Luto® / CEO do projecto Cfeliz

 

E se eu vos disser que numa vida podem caber entre setenta a oitenta perdas emocionais e profundas, vocês acreditam?
Sim, podem acreditar. Dizem os entendidos, que um ser humano pode superar até cerca de oitenta perdas de carácter emocional, resultantes de laços afetivos quebrados ou perdidos. Ou seja, podemos viver até cerca de oitenta lutos. 
Mas o que é isto do luto?
 
A palavra luto pode ser bastante assustadora. Normalmente, quando sou convidada para uma conferência ou para dar uma palestra sobre o tema, inevitavelmente a reação das pessoas ao ouvirem a palavra luto é quase sempre a mesma: olhar arregalado e assustado, contração muscular do corpo e tensão no rosto, tal e qual como se tivessem sido atingidos por um soco no estômago vindo do nada. Não é mais do que uma reação primeiro de surpresa, depois de dor e por fim de defesa.
De facto, tal apenas acontece porque intimamente associamos o luto a uma perda difícil, à perda de alguém que amamos, que nos deixou sem aviso prévio, que nos faz doer de saudade, dor essa que tentamos minimizar fugindo, evitando ou confrontando. O luto é isso tudo. É um processo de reação a uma perda emocional profunda, que decorre no tempo, de forma mais ou menos prolongada.
 
Se perdemos quem amamos, é suposto doer. E como não controlamos a vida, nem podemos evitar sofrer estas perdas, surge o luto como forma saudável para aprendermos a viver sem a pessoa amada.
Normalmente é aqui que consigo serenar a plateia e prosseguir com a palestra.
Mas numa vida podemos perder até oitenta pessoas que amamos?
 
O luto não é só por morte.
A morte dos nossos entes queridos é uma das causas do luto. E em Portugal, de facto, quando falamos de luto, culturalmente associamos o luto à morte. Mas cada vez mais, as pessoas já começam a associar a palavra luto a outro tipo de perdas, como por exemplo, quando uma classe profissional se sente defraudada nas suas expetativas e nas manifestações lemos cartazes como “Os enfermeiros estão em luto”.
 
Podemos identificar cinco causas principais que desencadeiam o processo de luto:
O afastamento da pessoa querida, que pode ser por morte, mas também, por divórcio ou separação conjugal, emigração e encarceramento; o dano ao amor próprio no caso da amputação de algum membro, ou devido a alterações patológicas no corpo, como paralisia ou perda de autonomia motora; a perda de fantasia de afeto, no caso da perda gestacional ou no nascimento de uma criança com deficiência; a desvalorização social por perda de emprego ou desqualificação profissional; o luto antecipatório que surge em contexto de doença degenerativa e/ou terminal. Temos ainda os lutos censurados que estão associados ao luto por perda de animais de estimação e de objetos com valor afetivo. 
 
Todas estas perdas têm valor afetivo. Todas elas são emocionais. Sem esses afetos perdidos vivemos vários lutos. Os oitenta lutos…
 
 
Saiba mais em www.cfeliz.pt 
 
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