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Aceita Só
Hoje. pela primeira vez, não vou escrever para ele mas sim para vós, aquelas que estão desse lado do écran com uma dor dentro do peito.

25/10/2017
Autor: Cláudia Lourenço

 

“O luto (do latim luctu) é um conjunto de reacções a uma perda significativa, geralmente pela morte de outro ser.” Dizem os peritos na matéria que o luto tem 5 fases: Negação e Choque, Raiva, Negociação, Depressão, Aceitação. Cada um de nós tem a sua forma de viver o luto, há os que se entregam à dor, os que se deixam derrubar por ela, os que fingem não a ter e os que a aceitam como sua. 
 
Hoje. pela primeira vez, não vou escrever para ele mas sim para vós, aquelas que estão desse lado do écran com uma dor dentro do peito. 
 
A 10 de Março de 2014 fiquei em choque ao receber a notícia da morte do meu “namorido”, passei a tarde a arranjar todo o tipo de desculpas para negar o que estava a acontecer, senti raiva do mundo não por mim, mas por ele. Ele, que não merecia o que lhe aconteceu, que era (e continua a ser) das melhores pessoas que conheci nesse mundo. Não me lembro de ter passado pela negociação e não tive tempo de passar pela depressão, uma maravilhosa novidade fez-me seguir, directamente, para a aceitação. 
 
Descobrir que estamos grávidas na mesma semana em que perdemos o pai daquele ser que carregamos não é fácil. É uma mistura de sentimentos que nos trás a raiva de volta carregada de “porquês”, perguntas que nos magoam pela falta de resposta, falta essa que tem que ser posta de parte pois há algo mais importante, há um ser a crescer que passa a ser prioridade e nada, nem ninguém, o pode afectar. São 9 meses de ansiedade, de receio de que algo aconteça e o que resta do “nós” se perca no caminho. São 40 semanas de incredulidade, do não acreditar muito bem no que está acontecer mas que, com o crescimento de uma barriga, não há como negar, está cá… Continuamos juntos e fortes, mesmo sem a presença de quem tanto, ainda, faz parte de nós.
 
A minha filha nasceu com o peso de uma importância maior do que a que, naturalmente, já teria. É a lembrança do namorido, do filho, do neto, do sobrinho, do amigo. É a lembrança, constante, de uma saudade que, tão bem, transformou em sorrisos de alegria. A minha filha nunca irá sentir o peso da morte do pai porque ela é única, não é o pai, não é a mãe é, pura e simplesmente, ela. Única e nossa… O brilhozinho nos olhos de todos os que mantêm o seu pai no coração.
Eu tenho uma filha sem a presença, física, do Pai. Não somos únicas no mundo, não nos interessa o porquê de ter sido assim. Acredito que haja um motivo que, talvez, um dia eu venha a compreender mas que, no agora, não é importante. O que nos interessa é respeitar e honrar a memória do Pai, é concretizar o que ele desejava, é fazer o que ele quereria, é manter a filha unida a quem ele tanto estimava.
 
A minha dor não é única, é partilhada por todos os que privaram com ele, a família, a nossa Bea que o tratava como pai e os seus 4 grandes amigos, homens que eu sei que ele adorava e admirava. Conheço muito bem a importância que tinham na sua vida e sei a importância que ele quereria que tivessem na vida da sua filha. No que depender de mim, a minha filha não vai crescer sem 1 pai, vai crescer com 4 e será, muito através deles que vai conhecer o Pai que tem, mas que não está cá, está lá, no planeta dele.
 
Não é fácil viver com uma dor escondida no peito, com uma saudade que nos acompanha para todo o lado, com um amor que nunca mais verá a dor do dia. A falta do toque, o som da voz. Fecho os olhos e tento ouvi-lo, sentir o seu cheiro. Tenho saudades de o beijar, de o abraçar, tenho saudades das conversas de varanda, tenho saudades de vermos as estrelas, saudades das idas nocturnas à praia, tenho saudades de o chatear, saudades de amuar por me deixar a falar sozinha, saudades das conversas sobre mergulho e tubarões, saudades das viagens as 2, dos passeios a 3 (o quanto ele iria adorar ver a bonita adolescente em que está a tornar), tenho saudades das suas aventuras que davam para escrever um livro, saudades das noites de sangria, tenho saudades de lhe dizer “Amo-te, de o ouvir dizer “Amo-te”, de encolher os ombros e lhe responder “Amas, amas”.
 
Vivo uma felicidade triste pela falta que me faz, mas não deixo que a tristeza domine a felicidade que há e todos os dias agradeço a filha que nos deixou, agradeço por me ter transformado, por ter feito, tão bem, parte da minha vida e por continuar. Aceitei a dor que conheci com esta perda, não lhe faço perguntas, não a espicaço, não deixo que me controle. Guardei-a num cantinho bem fechado do meu coração. Eu sei que está lá, ela sabe que existe, que faz parte de mim e sempre fará.
 
“Aceita Só Virgínia” era o que, muita vezes, me dizia quando eu tinha dificuldade em resolver algo que acontecia e eu não compreendia, mal sabia que me estava a “ensinar” a, um dia, aceitar a viver sem ele. 
E eu aceito com um pensamento na mente “Se a tua mãe sorri, quem sou eu para não o fazer?” 
 
Ele partiu mas não nos deixou sós.
“Obrigado Viana”.
 

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