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Meu querido mês de Agosto
“- Anda, vem connosco! Vai-te fazer bem! – e assim fui eu, rumo ao Algarve, onde sempre passámos férias. Não me custou fazer a mala, nem me custou a viagem. Confesso que por momentos até me senti entusiasmada."

24/08/2017
Autor: Cristina Felizardo - Conselheira do Luto® / CEO do projecto Cfeliz

 

“- Anda, vem connosco! Vai-te fazer bem! – e assim fui eu, rumo ao Algarve, onde sempre
passámos férias. Não me custou fazer a mala, nem me custou a viagem. Confesso que por
momentos até me senti entusiasmada. Afinal, iam lá estar todos, toda a família. E um tempo
fora de casa, poderia fazer-me bem, ajudar-me a manter a cabeça mais distraída. Pelo menos,
era isso que eu esperava. Mas quando cheguei, a realidade abateu-se sobre mim, bloqueando
todas as saídas, sem me deixar plano possível de fuga. Eles estavam lá todos e eu nunca me
senti tão só… não estavas lá tu! E o tempo, esse, parecia interminável. Dei comigo a negociar
comigo mesma, primeiro, os dias, depois as horas e por fim os minutos para conseguir
aguentar o tempo que faltava para regressar a casa. À nossa casa, onde sempre me senti
segura.”
Joana
 
 
O luto não tira férias!
 
Para quem está a superar a perda de um ente querido, os meses das férias podem causar
emoções ambivalentes.
 
Por um lado, o tempo em férias corre a outra velocidade, mais lenta e com menos
preocupações, permitindo à pessoa em luto organizar as suas ideias e realizar tarefas que,
noutra altura, quando as responsabilidades profissionais consumiam toda a energia,
constituíam um absoluto esforço. Em férias, a pessoa em luto, ganha tempo para “arrumar”
as suas caixas. Para além disso, as férias favorecem o encontro entre familiares e amigos. O
tempo, como não é contado, é disponibilizado para promover os afetos. É aproveitado para
“carregar as baterias” junto de quem se ama.
 
Por outro lado, esse mesmo tempo em férias corre mais lento. As preocupações profissionais
já não preenchem a maior parte do dia. Sobra tempo para organizar as ideias e realizar
tarefas que apenas têm de ser feitas precisamente porque se perdeu quem se amou. As
caixas ficam por “arrumar”, é demasiado doloroso fazê-lo. Para além disso, a reunião familiar
vem evidenciar que a família não está toda presente. Falta alguém. Falta a pessoa amada e a
presença de todos torna real quão irreversível é esta perda.
 
Mas também estes meses de férias, mesmo com toda a ambivalência emocional, contribuem
para a superação do luto. Abrandam o tempo, marcam o mesmo, com gatilhos de realidade,
que apesar de dolorosos, ajudam a pessoa em luto a descobrir as suas próprias estratégias resilientes para aprender a viver nesta nova vida. Este é o primeiro Agosto onde ela descobre
até onde aguenta a saudade que dói. No segundo Agosto já se conhece, já sabe quão
doloroso pode ser este tempo e qual o seu limite. No terceiro Agosto já sabe que consegue
sobreviver. Nos Agostos seguintes aprende a voltar a viver, nesta nova vida, com uma nova
felicidade. E só assim, o Agosto volta a ser o “querido mês”!
 
Saiba mais www.cfeliz.pt
 
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