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Polémica com pagamento de funerais no Cemitério de Odivelas
EXCLUSIVO: Existem 19 mortos sepultados cujas despesas ainda não foram pagas. Ao Até Sempre, a Câmara Municipal assume o problema e admite acionar “os meios de cobrança coerciva”.

27/04/2017
Autor: Irene Palma

 

Está instalada a polémica com o pagamento dos funerais no Cemitério de Odivelas, sabe o Até Sempre. Desde meados de Fevereiro que a Câmara Municipal de Odivelas proibiu que o pagamento dos funerais e trasladações fosse feito directamente na secretaria do cemitério, facto que está a deixar os agentes funerários bastante descontentes, e já são 19 os funerais cujas despesas estão em dívida.

Vamos aos factos. Até meados de Fevereiro sempre que se realizava um funeral no cemitério municipal, os agentes funerários deslocavam-se à secretaria existente no local e pagavam 63,32 euros para que o mesmo fosse realizado. Igual procedimento acontecia com as trasladações, pelo valor de 35,90 euros. O pagamento era feito na hora da realização das cerimónias, sendo que ao fim-de-semana o valor era pago aos coveiros de serviço, uma vez que a secretaria está encerrada ao sábado e ao domingo.
 
“Toda a vida se pagou assim. Corria tudo bem”, afirma ao Até Sempre Rogério Santos, agente na Funerária Central de Odivelas, que desconhece as verdadeiras razões para a alteração de procedimentos, a não ser o que vai ouvindo aqui e ali. “As razões que invocam nem sei. Parece que há um desentendimento qualquer com o pessoal do cemitério.” Também Carlos Moraes, da Funerária Cruzeiro de Odivelas, declara que a alteração se deve a “uma embirração sem fundamento. Se tivesse havido algum desvio de dinheiro até podíamos perceber a razão da mudança, mas não. Não aconteceu nada”.
 
E não. Não aconteceu qualquer desvio de verbas na secretaria do cemitério. O próprio executivo da Câmara Municipal de Odivelas confirma isso mesmo ao Até Sempre, admitindo que existiram exigências feitas pelo Sindicato de Trabalhadores relativamente ao procedimento dos funcionários cemiteriais terem de receber dinheiro, por não lhes ser pago o respectivo subsídio a que têm direito pelo desempenho dessas funções de tesouraria.
 
O cemitério está sob a alçada da directora Regina Meneses, da Divisão de Gestão Ambiental da Câmara Municipal de Odivelas, que decidiu em meados de Fevereiro acabar com os pagamentos directamente no cemitério e passá-los para a Loja de Cidadão no Centro Comercial Strada ou para a tesouraria da autarquia.

“A decisão ficou a dever-se a questões de reorganização interna da Câmara Municipal”, justifica-se a autarquia, considerando acertada a decisão de pagamento de verbas na referida superficie comercial “uma vez que tem o horário alargado e se encontra a aproximadamente 200 metros de distância do Cemitério. A situação do pagamento à posteriori apenas se verifica aos domingos uma vez que a Loja do Cidadão no Strada Shopping se encontra aberta à mesma hora que o Cemitério Municipal nos restantes” dias.
 
Na justificação que nos foi dada, a Câmara Municipal admite que tem “conhecimento de algumas das queixas” dos agentes funerários sobre esta alteração.
 
Para além de defenderam que não podem entrar no parque de estacionamento da superficie comercial com os carros funerários, os agentes defendem ainda que o facto de não efectuarem o pagamento no acto do funeral, “como acontece nos outros cemitérios, não faz sentido".
 
“Passei uma manhã inteira lá na Loja do Cidadão para pagar dois funerais e uma trasladação que tinha em dívida e não fui atendido pois estava lá apenas uma funcionária a atender três tipos de senhas. Tive de me ir embora e depois recebi um email a dizer que tinha de ir pagar porque tinha esses valores em dívida. Não gostei nada. Acho toda esta questão uma vergonha”, confessa Rogério Santos.
 
 
Taxas de 19 funerais em dívida em apenas dois meses

Até à alteração da forma de pagamento, não existia um único morto sepultado no Cemitério de Odivelas que não tivesse as taxas pagas. É o próprio executivo da Câmara que o confirma ao Até Sempre, admitindo que desde a mudança até ao dia de hoje existem “19 funerais” em dívida.

“A medida adotada para solucionar o problema foi o envio de e-mail informando as agências que existem pagamentos em divida podendo a Câmara Municipal acionar, entre outros, os meios de cobrança coerciva, nos termos da lei”, explica o gabinete da presidência.
 
São várias as agências funerárias que assumem não ter conseguido pagar os funerais devido à alteração de procedimentos. Carlos Moares é um dos muitos exemplos: “Eu devia três funerais mais uma ossada e como não pagámos no momento depois surge-nos mais trabalho, quando vamos lá para pagar é uma confusão e os valores vão ficando pendentes desnecessariamente.”
 
Quem também está preocupado com esta situação é Fernando Miranda, da Funerária Roma: “Para os colegas que vêm de fora esta decisão é um enorme incómodo. Não faz sentido terem de ir à Loja do Cidadão quando podiam pagar directamente no cemitério. Não consigo entender porque tomaram esta decisão sem nos ouvir. Alguém pediu opinião aos agentes funerários?”

Igual posição têm Rogério Santos e Carlos Moraes que consideram esta mudança um verdadeiro problema para quem habitualmente trabalha no concelho e principalmente para os agentes funerários de outros concelhos que se deslocam ao Cemitério de Odivelas.
 
O Até Sempre sabe que a autarquia está disponível para abordar este tema com os agentes funerários. “Nós já enviámos um email a manifestar o nosso desagrado. Vamos ver no que isto vai dar”, conclui Fernando Miranda.

 

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