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“Não se sabe a dor de perder”
Da América para os Açores, Roberto Ferreira conta-nos como se tornou agente funerário e ultrapassou um processo de luto doloroso

6/08/2015
Autor: Joana Martins Gomes

 

Roberto Ferreira, agente funerário em Ponta Delgada, recorda um dos piores momentos que viveu ao longo da sua carreira: uma mãe que agarrava desesperadamente o filho falecido e não deixava que fosse enterrado. De entre muitos momentos difíceis na vida de um agente funerário este é aquele que mais marcou Roberto.
 
O açoriano de 39 anos não hesita em afirmar que os funerais que envolvem crianças são os que mais lhe custam. Seja os pais a perderem os filhos, seja quando ainda crianças ou adolescentes perdem os pais. 
 
“Ninguém devia ter de passar por dores tão fortes”, reforça o agente da Funerária Ferreira.
 
Nenhuma perda é fácil, por isso é que é uma perda. Quando um agente funerário sente essa perda na pele, deixa a profissão para segundo plano e sofre como qualquer outro. 
 
Foi o que aconteceu a Roberto Ferreira quando há cinco anos perdeu a primeira mulher. “Não se sabe a dor de perder, até se perder”, afirma pragmático.
 
Juntamente com os dois filhos passou pelo processo de luto e reaprendeu a viver. 
 
Sabe o que é sofrer e talvez por isso a dor dos outros, por vezes, venha em dimensão maior. Assume que às vezes tem dificuldade em “gerir as emoções das outras pessoas”, e para tentar lidar melhor com a situação tenta “arrumar os assuntos na bagagem” para que não afetem o seu profissionalismo. 
 
O Luso-americano
 
Pois é! Roberto é fabrico açoriano, mas nasceu nos Estados Unidos da América, onde residiu até aos 3 anos. Depois voltou com os pais para Ponta Delgada.
 
A sua casa ficava por cima da agência funerária fundada pelo avô em 1959. Ainda se recorda que era ali, durante vários anos, que se produziam as urnas que a funerária utilizava. Sempre esteve “metido no negócio”, mas não se deixou seduzir desde logo!
 
Aos 14 anos voltou para os E.U.A., onde residiu com um irmão mais velho, e estudou. Como qualquer “mãe galinha”, a mãe de Roberto quis que ele voltasse para à ilha. Foram precisos dois anos para o ainda adolescente voltar a casa, um regresso que se tornou definitivo.
 
Uma sociedade a quatro
 
Quando retornou a Portugal, Roberto concluiu os estudos e começou a trabalhar na agência com o pai. O Sr. Ferreira tinha comprado o negócio ao pai e deu emprego ao jovem Roberto, que aliciado por ter o seu próprio “ganha pão” não mais abandonou o ramo. 
 
Atualmente, Roberto trabalha com um dos irmãos na agência funerária e ambos têm uma parte do negócio. Embora reformados, os pais Ferreira continuam a ter sociedade com os filhos.
 
A “facilidade em aprender” fazem de Roberto, um agente funerário interessado e dedicado à sua missão: dignificar o setor funerário. Em 2005, tirou a primeira formação e em 2008 foi para Barcelona tirar o curso de tanatoprator. 
 
No negócio há 25 anos, Roberto tem agora quatro filhos que “não devem seguir as pisadas do pai”.  
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