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O agente funerário que queria ser médico
Queria ser médico, mas a vontade de ganhar os seus próprios tostões levou Carlos Almeida a ser agente funerário.

7/07/2015
Autor: Até Sempre

 

Quinzenalmente vamos contar-lhe a história de um agente funerário. Por trás da profissão que desempenham estão homens e mulheres de pulso, que se dedicam a uma causa. Está na altura de terem voz e partilhar consigo o que os motiva e inspira todos os dias, nesta carreira.

 

 

“Só me vejo a fazer isto da vida” diz-nos Carlos Almeida, agente funerário desde 1986, ou melhor desde 1973. E sabe porquê? Porque aos 9 anos de idade já lavava os carros funerários.Ou o que conseguia lavar: “As carrinhas, naquela altura, eram muito altas. Eu lavava a parte de baixo e depois vinha um funcionário do meu pai acabar de lavar." Sim, isto já era um negócio de família.

 

Carlos seguiu um percurso igual ao de tantos jovens da sua geração. Brincou, estudou e cumpriu o dever militar. Foi nessa altura que os seus objetivos de vida mudaram. Queria ser médico. Pensou em ir para a tropa e estudar ao mesmo tempo. O que não esperava é que o destino o levasse até aos Açores, onde não havia a área de estudos pretendida (medicina).

 

Foi um ano sabático: “Estava desterrado. Jogava à bola e cumpria serviço militar», conta-nos Carlos Almeida. E recorda: “Era um civil militarizado e tive a oportunidade de lidar com militares pouco civilizados.”

 

Após cumprir as suas obrigações regressou à Lisboa que o viu nascer, ali para os lados do Alto do Pina – onde, ainda hoje, tem a sua própria agência: Funarária Alto Pina. "Quando voltei ainda pensei em trabalhar e estudar à noite mas chega-se a um ponto da vida que não se quer viver à custa dos pais, para além da conciliação horária entre estudos e trabalho ser quase impossível e não existiam a diversidade de Universidades dos tempos de hoje", diz-nos.

 

E assim foi......Aos 22 anos tornou-se funcionário do pai e ganhou o primeiro salário como qualquer outro funcionário. Desde então não mais largou esta vida. O negócio do pai tornou-se o seu negócio que partilha com a irmã Cristina que, com orgulho, interrompe-nos para dizer que são gémeos com diferença de cinco minutos. E são mesmo! Mais ainda no amor a uma profissão que muitos olham de lado.

 

 

Uma profissão de que se orgulha

 

Carlos não se recorda do primeiro funeral que teve de organizar, mas admite que por mais mecanismos de defesa que se ganhem há alguns que não se esquecem. É o caso dos funerais das crianças: “Ninguém gosta quando uma criança morre. A envolvente custa sempre.”

 

Arriscámos perguntar como se vive a morte de um pai (Carlos perdeu o seu em 2012). Num tom mais baixo, mas com a mesma convicção, o agente funerário partilha que se vive esse momento com a mesma intensidade de qualquer outra pessoa e muda de assunto...

 

Carlos Almeida acredita que o trabalho que desempenha não acaba com a celebração fúnebre. É lado a lado com o “Até Sempre”, o nosso projeto, que deposita esperança nas homenagens, nas palavras que recorda a vida e não a morte. “É a forma de as pessoas se interligarem sobre um pormenor em comum, que é aquele óbito” - sustenta o responsável da ANEL.

 

Sim, Carlos Almeida não é só um agente funerário, ele é também o rosto da ANEL – Associação Nacional de Empresas Lutuosas.

 

Em 1993, aceitou fazer parte da primeira direção da ANEL e desde então faz tudo o que pode (e não pode) para especializar, desmitificar, dar formação e dignificar otrabalho do Agente Funerário para que deixem de ser simplesmente “as pessoas que tratam dos funerais”.

 

Ama o que faz. Fala com paixão, e acima de tudo orgulho de uma profissão que teima em dignificar.

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